Das tantas


Das tantas cartas de amor que eu escrevi até então... Nada.
Das tantas lágrimas... Secas.
Das tantas mãos... Nenhuma.
Dos tantos laços... Desfeitos.
Dos tantos olhares... Vazio.
Dos tantos sentimentos... Feridas abertas.

E agora então, o que me resta?
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Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21/10/1935

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