Nos braços


E ela pensou que estar ali poderia durar toda a eternidade... podia deixar o corpo dele repousar no seu colo a vida inteira... Ali estava melhor que a noite inteira... e de tudo, só isso fez valer a pena. Mesmo que no final não haja recordação do momento ou mesmo consciência de que este tenha existido para ele, mesmo que o contemplar ou os cafunés fiquem registrados apenas no corpo dela, mesmo que no final de tudo ele tenha apenas ido embora.
"Se ele apenas imaginasse..." desejou... porque a esperança ali estava a cutucar... porque o sentimento ali estava a despertar... porque nunca pôde estar ali tão perto como sempre quisera estar... porque mesmo que nem haja o que esperar, ali ao menos podia sonhar... E para ela a vida agora parecia tão simples e fácil... e ele lhe parecia tão frágil e perdido... ainda que toda atitude dele tentasse passar o contrário, ainda que palavra alguma proferida por ele lhe dissesse o provável... E ela nunca quis proteger tanto aquele ser... ainda que na real ele nem precisasse dela... ainda que para ele, o fato dela estar ali fosse apenas momentâneo...
Mas acabou que acabaram por chegar no destino final, e o corpo dele se foi para longe do dela, o calor se fez presente por alguns segundos e depois a noite fria o levou embora... E foi assim de novo, foi-se ele outra vez sem saber... Ela fechou os olhos e agradeceu, aceitando o que lhe veio como um presente e muito embora ele nunca saiba que não foi um abraço de braços, fora algo mais além, como um abraço no coração pelo qual ela ficou grata, ela sempre vai saber. E por ora basta.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Auto-retrato aos 29